Um comentário sobre "o que devíamos ter feito"

As situações abordadas nos relatos breves desta antologia de contos o que devíamos ter feito, do escritor mineiro Whisner Fraga, mais que surpreendem, inquietam, mexem intimamente com o leitor, e mais ainda, acredito, com aqueles investidos no papel de pais.


Neles, nos contos, a culpa, o remorso, a negligência, a impotência, o descuido, decorrem ou conduzem  quase sempre à consumação de tragédias íntimas, domésticas, cotidianas. A dor incomensurável decorrente da perda de um filho, assunto de dois desses contos, leva a diferentes reações por parte dos pais-personagens: um não consegue se desapegar da pergunta incisiva e recorrente feita a si mesmo de que não teria sido diferente se ele próprio não subestimasse os alertas e os sinais; outro (outra), reage à sua perda com uma ruptura. O ódio de que o filho perdido era o seu e não o da outra, revela-se cismo avassalador, usurpando o lugar do sentimento embrionário que acenava com promessas.

Há ainda o outro pai, cujo nível de sacrifício (fecha os olhos ao assédio sexual condicionante sofrido pelo filho aspirante a jogador de futebol), não conhece obstáculos, e que, para o seu bem e dele próprio, sem qualquer escrúpulo, o atira às feras.

Sai-se, sem dúvida, desnorteado, grogue eu diria, após a leitura destas narrativas. Importante: o autor em momento algum cai no lugar-comum do vencer por pontos ou nocaute, mas "jabeia" bem, e sabe como fazer com que o leitor não fique parado.

(Chico Pascoal)

Comentários

  1. Excelente resenha, fiquei interessado no livro.

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    1. Obrigado, AC! O livro está disponível na Amazon, em ebook. Se desejar o físico, entre em contato comigo pelo email whisnerfraga@gmail.com. Abraços!

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